Alvo dos alertas das organizações de saúde, a Mpox voltou no último dia 14 de agosto a ser classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com o status de emergência de saúde pública de importância internacional, tendo em vista os altos índices de diagnóstico da infecção em diversos países do mundo.
Em 2022, a doença já havia adquirido este status mais elevado de alerta em função da propagação de uma linhagem do vírus que ultrapassou os limites do continente Africano, muito em consequência de um contágio a partir de contato sexual.
Atualmente, uma nova variante do vírus tem causado o aumento de casos, especialmente na República Democrática do Congo, também tendo casos confirmados na Suécia. O Ministério da Saúde (MS) instalou um Centro de Operações de Emergência em Saúde para ações de resposta ao Mpox.
O Diario de Pernambuco conversou com o médico infectologista da Universidade de Pernambuco, Felipe Prohaska, e reuniu informações a respeito da Mpox, seu contágio, sintomas, prevenção e tratamento.
“Hoje quando uma doença deixa de ser restrita a uma região, então ela deixa de ser uma doença endêmica e passa a ser uma doença epidêmica, mas como ela vai começando a ganhar estados e vencendo os países e até mesmo continentes e começa a ter características que possam levar a uma pandemia, não é a pandemia declarada, mas que pode chegar a uma pandemia, esse status é elevado para poder trazer situações de prevenção para impedir que a doença se propague”, disse Felipe, sobre os procedimentos tomados para lidar com a disseminação do vírus.
O que é a Mpox?
Antigamente conhecida como varíola dos macacos, a Mpox é uma doença causada pelo mpox vírus (MPXV), do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. É uma doença infecciosa viral, e sua transmissão para humanos pode ocorrer por meio do contato com pessoas infectadas, materiais contaminados, e animais infectados.
“Na verdade existem vários tipos de pox e elas são sempre restritas e relacionadas às situações de origem delas. A catapora, por exemplo, varicela, é conhecida como Chickenpox, mas ela não foi traduzida como ‘varíola das galinhas’, já para não ter um preconceito com relação ao animal e trazer uma interpretação inadequada. No caso da Mpox, que era a Monkeypox, preferiu-se retirar essa característica do ‘monkey’, devido a ataques aos macacos de forma descontrolada, e hoje a doença é relacionada não mais ao animal e sim à transmissão de humana para humano, mas a origem dela foi animal”, explicou o médico.
Com a nova ascensão da doença, muitas dúvidas se criaram a respeito das chances de uma nova pandemia acontecer, como a exemplo da Covid-19. O médico explicou as diferenças entre os contextos da Mpox e da Covid-19 e as chances de uma nova pandemia.
“Doenças diferentes, com características diferentes, a covid passava pelo ar e a Mpox é muito mais pelo contato. Teoricamente, numa escala como a covid, teria que ser mais uma doença respiratória, mas a Mpox tem potencial de disseminação por vários países, e tem que ter os seus cuidados pode transformar numa pandemia, sem dúvida, mas com proporções muito diferentes do que aconteceu com o Covid e cuidados também muito diferentes”, afirmou o infectologista.
Sintomas
O principal sintoma é a erupção na pele, acompanhada de linfonodos inchados (ínguas), febre, dor de cabeça, dores no corpo, calafrio e fraqueza. As lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas, que secam e caem. O número de lesões em uma pessoa pode variar de algumas a milhares de lesões.
As erupções tendem a se concentrar no rosto, na palma das mãos e planta dos pés, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, olhos, órgãos genitais e no ânus. Quando as crostas desaparecem, a pessoa doente deixa de transmitir o vírus.
As erupções na pele geralmente começam dentro de um a três dias após o início da febre, mas às vezes, podem aparecer antes da febre. Geralmente, os sintomas demoram entre três a 16 dias para serem manifestados, podendo chegar a 21 dias.
Prohaska apontou qual o principal risco proveniente das lesões cutâneas.
“Essas lesões podem infectar e trazer maior gravidade ao paciente, mas os cuidados com essas lesões devem ser para evitar infecções secundárias bacterianas e também evitar transmissibilidade para outras pessoas”, afirmou.
Diagnóstico
O diagnóstico da Mpox é realizado de forma laboratorial, por teste molecular ou sequenciamento genético. A amostra a ser analisada será coletada, preferencialmente, da secreção das lesões. Quando as lesões já estão secas, o material encaminhado são as crostas das lesões.
Em caso de suspeita da infecção
De acordo com Felipe Prohaska, a primeira orientação é o isolamento de contato, evitando que outras pessoas fiquem manipulando as lesões. “Ter cuidado ao cuidar, de usar luvas, para tentar minimizar o risco de transmissibilidade da doença, mas principalmente aí é o isolamento de contato. Essa tendência é a maior forma de evitar a propagação”, declarou.
Prevenção
Além da vacinação, o melhor jeito de se prevenir contra a Mpox é evitar contato com pessoas infectadas e manter cuidados em casos de interação com pacientes. Não compartilhar materiais de higiene e uso pessoal, como roupas, talheres, copos, roupas de cama, e sempre lavar as mãos e usar álcool em gel.
Tratamento
O tratamento básico contra a Mpox tem sido medidas de suporte clínico com o objetivo de aliviar sintomas; prevenir e tratar complicações e evitar sequelas. A grande parte dos casos apresenta sinais e sintomas leves e moderados, mas a doença pode ter complicações que levam à morte.
Até o momento, não há medicamento aprovado especificamente para tratar a Mpox. “Existem algumas drogas que estão em estudo, mas que não mostraram bons resultados”, revelou Prohaska.
Mpox em Pernambuco
Com um cenário controlado, Pernambuco tem ao todo 10 casos confirmados para Mpox, em 2024. Procurada pelo Diario, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) destacou o reforço à população promovido pelo órgão sobre a importância da adoção das medidas de prevenção contra a doença.
Segundo a SES-PE, o Estado não registra circulação da variante do Clado I, que preocupa as organizações de saúde. Pernambuco segue a tendência brasileira e apresenta sinal de controle e estabilidade.
“No nosso último informe epidemiológico do Mpox, analisando dados desde 2022, identificamos um perfil de grupo prioritário que é o formado por homens (87,2%), na faixa etária entre 20 e 49 anos (301 casos)”, disse o diretor geral de Vigilância Epidemiológica, Lucas Caheté.
Em todo o ano 2023, foram diagnosticados 23 casos da doença e, em 2022, foram contabilizados um total de 325 casos de Mpox. De 2022 até a presente data, a redução foi de 96,9% nos números de casos.
Em Pernambuco, o diagnóstico da doença é realizado no Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE), que analisa as amostras de swab (coleta por meio de esfregaço nas lesões cuta%u0302neas ou de mucosas) realizadas em pacientes com o perfil de quadro suspeito.
Quanto à rede de atendimento disponível no estado, todas as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) são capacitadas e responsáveis em realizar os atendimentos e a coleta do exame de Swab dos casos suspeitos de Mpox e, quando necessário, realizar o encaminhamento para serviços de referência, sendo eles: Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Hospital Correia Picanço (HCP), Hospital das Clínicas (HC), Hospital Agamenon Magalhães (HAM) e Hospital Barão de Lucena (HBL).
Mpox no Brasil
De janeiro até agosto, o Brasil registrou 836 casos confirmados ou prováveis de Mpox neste ano, segundo o último boletim da doença do Ministério da Saúde. Do total, 427 registros (51,5%) foram no Estado de São Paulo.
Além de São Paulo, outros estados brasileiros que contabilizam mais casos de Mpox são: Rio de Janeiro, com 194 casos, Minas Gerais, com 50 casos, e Bahia, com 35 casos.
Fonte: Folha de Pernambuco